quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O presente

À medida em que os anos passam, percebo que viver o presente não é uma tarefa nada fácil. Quando era criança, eu desejava permanentemente ser "um adulto". O desejo aumentava sempre que era privado de algo: as restrições ao Atari impostas por papai fora dos meses de férias; os afazeres de casa impostos por mamãe a todo instante; não poder ficar acordado para ver tevê porque "sentiria sono para ir à escola" no dia seguinte; até por ter de pedir permissão ao professor para ir ao banheiro durante as aulas.

"Deve ser tão bom 'poder ser' adulto"!, eu pensava. Cuidar da própria vida, sair de casa quando quisesse, a liberdade de estar na universidade, ir dormir quando bem entendesse... A perspectiva desse futuro gerava um enorme anseio por alguma maturidade. Veio a adolescência e o desejo se converteu em revolta, segundo a definição dos pais que sempre me tiveram como "tão ajuizado". Aos 14 anos, eu já decidira que sairia de casa o mais rapidamente possível. Aos 19, ainda que mantivesse a dependência financeira dos meus pais, eu já estava longe de casa e, de algum modo, cuidando da minha vida.

A projeção do futuro, entretanto, permanecia. Não ter a grana que precisava para o que considerava ser "curtir a vida" me afligia. Da mesma forma me afligiam a carreira inteira por "construir", uma relação afetiva com alguém por "construir", um patrimônio por "construir". No meio disso tudo, não havia espaço para o presente, para o instante imediato.

O tal amadurecimento vem aumentando, agora, a necessidade de viver o presente. Não na perspectiva de até então, quando a idéia de aproveitar ao máximo cada instante da vida era, uma vez mais, a projeção do futuro, na medida em que imaginava que, quanto mais vivesse, mais teria tempo para experimentar novas sensações e momentos.

Agora, as reflexões sobre o presente me fazem aprender a viver um dia sem a angústia do seguinte. Aproveitar, agora, significa viver sem projetar o amanhã e, ao mesmo tempo, sem a espera, ainda que tranquila, do momento seguinte. Nem sequer em função de sua imprevisivilidade. Essa idéia não é, até agora, algo acabado, mas é um primeiro passo importante para que meus nervos fiquem mais calmos, meus livros gritem menos na prateleira empoirada por leitura, os CDs que quero ouvir permaneçam na loja até que eu de fato tenha tempo para eles, as férias venham quando eu estiver realmente cansado, os sapatos sejam trocados apenas quando os vários pares guardados estejam gastos.

Às vezes, caminhar não significa exatamente ir em frente ou para algum lugar, mas apenas estar em algum lugar, sozinho ou acompanhado, angustiado ou calmo, livre ou preso a algo. Avançar pode não ter, principalmente, sentido algum. O presente, também não. Descubro agora que não é necessário.

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