quarta-feira, 24 de abril de 2013

Se essa rua fosse a minha

No Jardim América tem uma rua fofa
Um rua de calçadas retas e bem cuidadas
De jardins floridos e portões pintadinhos
E com esquinas de contornos delicados

Se essa rua do Jardim América fosse a minha
Eu teria um jardim na porta de casa, com flores de espinhos
Para me proteger da beleza que transborda da portinha
De cada casa, de cada prédio, os menores e os maiores

Qualquer dia eu faço uma foto dessas portinhas
Com suas flores bem cuidadas, algumas poucas delas, rosas
Ao redor de alpendres e à beira de calçadas de pedras portuguesas
Vou com uma flor de espinhos na mão, porque essa rua não é a minha

Nunca mais

Eis que este blog ainda está aqui. A última postagem foi em 2010. Lá se vão três anos.
Sempre tenho vontade de escrever. Mas as ideias me fogem, os sentimentos se esvaem nas canções que traduzem o que me vem à cabeça.
O passar dos anos é o que mais me "pega" nesses momentos. A sensação de que nunca mais vou amar, sentir, viver, odiar, ignorar, despreocupar-me e preocupar-me como antes. Nunca mais.
Por que?
Os anos têm me deixado mais cabreiro. Em outras palavras, o tempo tem me deixado mais resistente aos sentimentos, à entrega, ao mergulho. Já não entro no mar. Não tomo mais sol. Não pego mais o meu carro e saio sem destino. Não saio mais só. Não amo do mesmo jeito que antes. Não sou mais do mesmo jeito.


sábado, 23 de outubro de 2010

Surpresa

Novos estímulos me fazem ressuscitar este blog, bem mais de um ano depois.
Quem sabe não volte a escrever? Fica o suspense, pra mim mesmo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Libertar-se

É libertador descobrir, enfim, que podemos renunciar, ora ou outra, a tudo aquilo que nos atormenta e perceber que essa renúncia não é o fim de tudo, mas pode ser um recomeço.

A pergunta é: quero me livrar do que me atormenta?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Fixação

Por que quanto mais tento esquecer de algo mais me lembro dele?

Por que quanto mais quero fazer algo de um modo mais tenho dificuldade em atingi-lo?

Por que a vontade de poder me torna mais impotente?

Por que quanto mais eu desejo mais me deparo com o desejo impossível?

Por que quando mais quero dizer não eu sempre digo sim? E por que do vice-versa?

Por que quanto mais fujo mais rápido chego ao ponto de partida?

Por que esses porquês?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Confissão

Hoje eu quero falar do que sinto por você
Sente-se, que a estrada é longa em palavras
Feita de frases que podem assustar
Mas hoje eu quero que me as permita dizer

Sei que o amor é prosa e que os versos...
Os versos saem com dificuldade, se entrelaçam
Em frases que nem sempre consigo entender
Mas poesia talvez traduza melhor o que sinto agora

Procuro rima e métrica, que não vêm
Ah, se me desse a chance de dizer o que sinto por você
Que durmo e acordo querendo ouvir tua voz
Conto as horas para falar com você
Fico trêmulo e suado quando estou ao seu lado
Que quero te ver feliz acima de tudo

Que...

Que nada mais tem tanta graça sem você
O tempo pára quando estamos juntos
As horas tomam outro tempo
Teu cheiro me invade quando chega e me dilacera quando vai embora

Doença, neurose, esquizofrenia, podem dizer
Mas sinto e quero o direito de poder sentir, elouquecer
Sob o sussurro das palavras secretas que me dizes no ouvido
Elouquecer sob o desejo de estar sempre ao teu lado

Deixe-me amar você, meu amor
Tentar expressar, ainda que forma desconexa, o que sinto por você
Sem censura, sem medo, sem repreensões
Porque sei o que sinto, só não sei como dizer

Às vezes eu mesmo me surpreendo
Com a dimensão desse amor
Mas logo me rendo à impossibilidade de dizer não
É insanidade, eu sei, eu bem sei, meu amor querido
Mas deixe-me sentir, sem censura
Sem o crivo dos rótulos, sem o medo da perda
Sem a pecha do excesso, sem qualquer barreira

De novo nada faz sentido
Não sei o que dizer
Dizer o que? Apenas sentir
Sinto, sinto, sinto
Quero o direito de sentir

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Quero ser repórter

No ano passado, em função de dificuldades financeiras, me levei a mudar de função e horário no jornal em que trabalho. Foi uma decisão consciente, baseada na necessidade de sair em busca de mais grana para as despesas. De junho a outubro, mergulhei fundo na nova empreitada, trabalhei feito um desesperado, doze, treze, até quinze horas por dia, sete dias por semana.

Em outubro, o problema de grana estava resolvido. Contas pagas, uma boa reserva para despesas futuras, as manhãs e parte das tardes livres para fazer outros trabalhos extras. Ter esse tempo livre foi fundamental para planejar melhor os novos passos que daria dali em diante. As eleições, tema principal da cobertura do jornal, terminaram e vieram as férias de novembro.

Dezembro, janeiro, fevereiro. A vida voltou ao seu ritmo normal e, finalmente, passei a refletir melhor sobre o significado da escolha do junho passado. Uma análise mais profunda da minha "escolha" acabou me conduzindo ao inevitável: agora me descubro insatisfeito com a opção tomada. Contemplo o entusiasmo dos meus colegas de editoria com o dia-a-dia da reportagem e sinto uma saudade profunda daquela sublimação que é ser repórter.

Ir para a rua, apurar e trazer a notícia para a redação é o alimento do repórter. O lugar do repórter é a rua, disse Clóvis Rossi em "Reportagem", da coleção Folha Explica. É disso que sinto falta: de sair com o bloco em branco da redação e, ao final do dia, sentar-me diante da tela do computador e ter algo a dizer para o leitor que abrirá o jornal no outro dia. Sinto falta da repercussão, do retorno dos leitores, da sensação do serviço prestado por meio do bom jornalismo.

Esses meses distante da reportagem me fizeram perceber que, na prática do jornalismo, a única função que realmente tenho vontade de exercer é a de repórter. Quero ser repórter por toda a vida. Viver a euforia de descobrir uma boa história, a sensação de vitória ao checar um dado e concluir que ele é verdadeiro. Dar voz à defesa, à argumentação da notícia apurada. Desvendar um pedacinho do mundo.

Apurar a notícia é como catalogar uma pequena pedra no meio de um imenso rochedo. É apontar um filete de água que vai desembocar, quilômetros adiante, num rio caudaloso e depois no mar. É ajudar a definir um sentimento, despertar uma ponta que seja de indignação, responder a uma pergunta até antes ignorada.

Quero ser repórter. Por toda a vida.